primícias poéticas: vida de cachorro

primícias poéticas


domingo, novembro 25, 2007

vida de cachorro

um vira-latinha tão carente
sem pêlo quase e manco
(todos os cachorros dos arrabaldes são mancos)
sozinho e indefeso
medroso de tudo
sem nome e sem rumo
tão sem lugar nesta rua
neste bairro, nesta vida

o olhar chaplinesco, choroso
guarda lá no fundo uma alegria fácil

já lhe abanaria o rabo
uma voz mais suave de um chamado despretensioso
ou mesmo um simples assobio

esquecido em sua própria sombra, ali
todo maltratado
um vira-latinha, apenas
para os passantes
que não fazem outra coisa, senão passar
com relógios e bocejos

que vontade a minha de voltar
e acolhê-lo num abraço
trazer todos os cãezinhos abandonados do mundo
para o meu quintal
e alimentá-los
e afagar-lhes as orelhas
e fazer cosquinha debaixo do pescoço
que sei que eles adoram assim
deixá-los lamber minha mão
e arremessar ao mais longe qualquer coisa
para que eles se esbaldem na carreira desabalada

e pensar que os dias têm sido
esperar o pontapé de alguém
sem nada ter feito por isso...

.
- premiado com o 3º lugar do Concurso "IV Prêmio Barueri de Literatura" - 2007
- declamado pelo locutor português Luís Gaspar, no programa Lugar aos Outros 73 de seu audioblog Estúdio Raposa.

da lapela de octavio roggiero neto às 6:54 PM

8 Comentários
Anonymous Anônimo disse:

Ainda bem que você mesmo disse que existem os poetas-leitores e os
poetas
escritores.
Eu, na primeira condição, gostaria de deixar minha reflexão especialmente
sobre a última estrofe:
Quantos de nós não já fomos ou seremos como esses caezinhos, levando
ponta-pés "sem nada ter feito por isso", mas persistamos que de Outro, e por
esse devemos/podemos esperar, virá o abraço acolhedor.

Eu sei que o fato maior em "vida de cachorro" não foi conduzir pensamentos
para esse lado que me conduziu. Ora, Ora, mas ele é agora de todos, ou não?

Claro,Claro, sobram também espaços para dizer que é bem isso que sentimos,
os que gostamos de cahorro, ao vermos essa meninadinha balançando o rabo nas
ruas.
bjos, até daqui a pouco.

10:08 PM  
Blogger Keila Sgobi de Barros disse:

caminhei pouco nesta vida...mas, para a minha, o suficiente.

as pedras que se colocam em meu caminho, não foi eu quem as coloquei, mas contribuí para que se mantivessem lá ou somente eu as enxerguei.

o que isso quer dizer?

que eu me faço moribundo, cheiroso, imundo
eu me faço feliz, crente, sortudo
eu me faço amado ou odiado por todos
eu me faço tudo e nada, diante do mundo...

Beijos

Sumida

10:39 PM  
Anonymous Anônimo disse:

Esses adoráveis vagabundos são postos em nossos caminhos pra ver se a gente se toca. Gostei do tema e dos versos. Abraço/saudade/Riodaqui aí. Paulo Vigu

9:37 AM  
Blogger diovvani mendonça disse:

Parabéns, Roggiero, por seu abençoado olhar de poeta sobre as coisas simples da vida e pelo merecido prêmio.

~^~ Abraço ~^^ ~

P.E. Lá em casa, eu e Vanusa, temos 7 cachorros.

Comigo? São 8 (rsrs).

A mais recente que adotamos é a Mel - estava abandonada na rua e me olhou de um jeito... Putz!!! Não tive outro jeito, levei-a para o abrigo do Ninho.

3:51 PM  
Blogger vieira calado disse:

Parabéns pelo prémio.
Acontece que tenho um livro escrito sobre a vida dum cão vadio. Está em 3ª edição. É o "cão Merdock", dos meus blogs.
gora estou só a passar fotografias, mas se procurar mais abaixo terá um cheirinho da estória.
Um abraço.

12:26 PM  
Blogger Keila Sgobi de Barros disse:

Parabéns, poeta!

Estas coisas que despertam vários sentimentos nos tocam de todos os jeitos, mesmo sem querer...

Seguindo passos de escritor...

sina que se assina!

Beijos!

8:27 AM  
Blogger Menina Marota disse:

Parabéns pelo Prémio, mas ainda mais pelo poema! Se todos os chamados humanos, se tocassem e não abandonassem nem maltatassem os seus animais, talvez o mundo fosse bem melhor.

Um abraço

1:11 PM  
Blogger Luzzsh disse:

Sempre linda a sua Poesia...palavras perfeitamente encaixadas, dessa vez cantando uma vidinha tão, tão...tão minha vezenquando!....

Uma certa tristeza, um pouco de dureza, pitada de esperança, esquecimento da rudeza. Tudo isso - e mais - ingredientes do que chamamos Vida.

Amo cães. Tb tenho vontade de levar todos para casa. Mas já tenho três. Minha mãe já ameaçou: mais um e...quatro coitados no olho da rua (contando comigo). ;)

Beijos, lindo e talentoso, querido amigo.

10:21 PM  

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